Como a depressão pós-parto afeta os homens?

Você precisa ser forte e a força não tem nada a ver com brutalidade. Essa e a mensagem pra você que é homem e até o final você vai entender o porque disso.
A ciência vem estudando a vida de alguns homens e alguns problemas são recorrentes com uma certa parcela específica desse lado da população, como é a história de Tom que eu vou te contar agora.
Ele se lembra de estar dirigindo na rodovia, do céu nublado e da sensação de que algo estava errado. Estava indo para casa onde estavam sua esposa, seu filho de dois anos e seu outro filho recém-nascido e mesmo depois de um dia inteiro longe da família, ele estava pensando em sua cama.
“Eu tive esse pensamento estranho”, lembra Tom, um gerente de projetos de TI, de 40 anos. "Em vez de querer ir para a cama, eu queria ficar embaixo dela. Não queria interagir com ninguém. Não queria ver minha esposa e nem meus filhos. Só queria me esconder e desaparecer completamente. Foi a primeira vez na minha vida que tive esse tipo de pensamento.”
O pensamento era tão claro, estranho e perturbador para Tom que ele decidiu rastreá-lo até sua fonte. Ele estava exausto. No início daquela semana ele reservou uma sala de conferências apenas para tirar uma soneca. Mas esse pensamento não era apenas sobre estar cansado.
Ele ligou para um amigo que era um tipo de conselheiro e explicou o que estava acontecendo. O amigo lhe mostrou uma ferramenta online de triagem de depressão que continham 15 perguntas para diagnosticar esse quadro. Das 15, tom respondeu 13 positivas. Agora ele sabia o que poderia estar acontecendo. O que ele não sabia, era o quão comuns entre os novos pais são os pensamentos que ele estava tendo.
De acordo com um estudo de 2010 no Journal of the American Medical Association, a depressão atinge cerca de 14% dos novos pais após o nascimento de um filho. Mas esse número provavelmente está abaixo da média real, porque de acordo com um estudo sueco de 2017, feito com quase 500 novos pais, 27% tiveram algum quadro de depressão. Dentre eles, mais de 75% disseram que guardavam os sentimentos para si mesmos. Portanto, há muitos homens como Tom que sofrem em silêncio.

Isso é basicamente um problema biológico sendo amplificado por normas culturais que exigem que o homem seja o ponto forte da cena. Não que o homem precise a todo momento demonstrar seus sentimentos, mas caso precise, que não seja taxado de fraco e nem de ter sua masculinidade fragilizada.
Contudo, as razões culturais são compreensíveis. O nascimento de uma criança é um evento de vida centrado na mãe e muito tem sido relacionado com a questão da depressão pós-parto, que afeta cerca de 15% das novas mães.
A batalha retórica sobre quem pode e deve ficar deprimido após o nascimento, e como essa depressão deve se parecer, levou à discussão acadêmica sobre se a depressão pós-parto em homens deve ser reconhecida como uma condição específica.
Para ajudar a esclarecer as coisas, alguns pesquisadores começaram a testar novos pais emocionalmente desregulados contra a escala de depressão pós-natal de Edimburgo, desenvolvida no reino unido em 1987 para rastrear as mães.
A pesquisa de dez perguntas questiona a frequência dos estados emocionais dos homens com algumas perguntas. O problema é que os homens experimentam a depressão de forma diferente das mulheres.
Por exemplo, os homens são menos propensos do que as mulheres a chorar e muito mais propensos a simplesmente parar de experimentar emoções significativas se tornando, às vezes, apáticos, como se estivessem vivendo no modo automático.
Homens deprimidos geralmente se envolvem em comportamentos de risco em um esforço para sentir algo diferente. Mulheres deprimidas já tem mais facilidade de se abrir e tentar colocar para fora o que as deprime e sim, isso é uma generalização. Nem todas agem dessa forma.
Como o tema saúde mental foi sendo normalizado nas últimas décadas e mais pais se manifestaram sobre seus problemas de saúde mental, mais pesquisadores procuraram gatilhos biológicos para o problema.
Alguns homens que experimentaram a transição para a paternidade foram submetidos a alguns estudos com uma combinação de imagens magnéticas, testes hormonais e entrevistas, para desenvolver um instantâneo do corpo masculino após a se tornarem pais.
Quando os homens se tornam pais mais envolvidos na criação dos filhos, sua testosterona pode diminuir. Isso tem muitas consequências diferentes. A parte benéfica dessas consequências é poder interagir com uma criança de uma maneira mais sensível e empática, de uma maneira que você tenha menos probabilidade de ficar frustrado e perder a paciência. A parte ruim é que quanto menor seu nível de testosterona, sua libido também pode diminuir.

Em outras palavras, o nível de testosterona pode ser adaptável dependendo do nível de interação do homem com seus filhos. Isso ocorre porque inconscientemente o homem desenvolve comportamentos de nutrição, que nos mamíferos vem exclusivamente através do leite produzido pelas fêmeas. Não quer dizer que o homem tenha capacidade de amamentar, mas simplesmente que, ele tem a capacidade de cuidar do seu filho com 100% de propriedade, mesmo se a mãe não estivesse presente.
O segundo problema com os pais mais envolvidos na vida familiar é o tamanho dos testículos. Em 2013 foi feito um estudo para ver se o tamanho dos testículos dos novos pais estava correlacionado com sua capacidade parental relatada, pois isso acontece com outros mamíferos que dividem de forma mais igualitária as tarefas de cuidado familiar.
Usando uma ressonância magnética foi constatado que os homens com testículos menores tinha parceiros que os descreviam como um pai envolvido na relação familiar.
Além disso os cérebros desses homens foram escaneados enquanto eles olhavam fotos de seus bebês, e descobriram que homens com testículos menores tiveram respostas mais fortes ao ver uma foto de seu filhos dentro de sistemas neurais que sabem estar associados à motivação e recompensa dos pais.
A razão? Animais investidos no acasalamento produzem mais testosterona, que por sua vez aumenta a quantidade de sêmem produzido, resultando em testículos maiores. Animais que investem em cuidar de filhotes em vez de só produzi-los tendem a economizar energia limitando a produção hormonal.
Mas nem sempre é útil comparar machos humanos com animais. Se por um lado, os animais não são perturbados pelas nossas normas culturais, por outro lado, o comportamento humano é muito menos hormonalmente determinado.
Podemos não ser totalmente livres, mas ainda temos um largo poder de escolha e é por isso que todo esse foco na testosterona é mais instrutivo do que determinante.
A maioria dos homens não sabe o nível de sua testosterona sem algum tipo de teste, e isso é a última coisa que passaria na mente de um homem nas primeiras semanas de paternidade. E mesmo que um novo pai conheça seu nível, ele poderia ser responsável por apenas um fator e pouquíssimos médicos recomendam tomar algum suplemento para normalizar isso.
Tom estava enfrentando uma longa lista de riscos de depressão.
“Estávamos fora de nosso normal, fora de nossa rotina. Nós não apenas tínhamos um novo bebê para cuidar, mas eu estava tentando ajudar minha esposa a se locomover. Eu estava tentando cuidar de três pessoas na casa ao mesmo tempo.”
Além disso, ele tinha acabado de ser promovido no trabalho e não podia tirar nenhuma licença. Ele estava de volta à empresa uma semana após o nascimento de seu filho. Além disso, entre as demandas de seu trabalho e da vida doméstica, a maior parte de seu autocuidado equivalia a caminhar do estacionamento para o trabalho de manhã e depois voltar para o estacionamento no final do dia.
Os pesquisadores descobriram que alguns desses tipos de dificuldades podem ser amenizados pela criação de fortes laços familiares. Mas a maioria dos homens precisa voltar ao trabalho muito rapidamente após o nascimento de seus filhos.
Essa falta de apoio institucional leva a uma desconexão em casa e no trabalho. Alguns novos pais ficam atordoados, sentindo cada pedaço da decepção de se sentir sobrecarregado e ao mesmo tempo de mãos atadas.

A maioria dos homens tem a capacidade de se envolver em cuidados diretos, mas a forma como a sociedade é estruturada determina se isso é realizado ou não.
Nem todos os problemas têm soluções claras e fáceis. A depressão do pai continuará sendo comum. O único conforto real é que é improvável que ela se torne uma doença crônica. É um sacrifício subestimado que os homens fazem por suas famílias, mas está longe de ser o último.
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